Quatro dias depois de um grupo de indígenas realizar um protesto na tarde de quinta-feira 21, em frente a Prefeitura de Mafra, para pedir agilização de uma área de moradia para a tribo kaigang, vereadores se manifestaram na sessão da Câmara dia 24, afirmando que, eles precisam voltar para seu município de origem, Chapecó, porque é no município do prefeito João Rodrigues (PSD) que há aldeias para abrigar indígenas.
– Mafra não tem aldeia estabelecida, nem no centro e nem no interior do município …vamos ter que comprar passagens de volta (Chapecó) pra eles – disse o vereador Jonas Heide (PL) em apoio a fala da vereadora Miriam Canforeira (PSDB) que havia dito que os indígenas, os quais estão as margens do rio da Lança, aos arredores da Rodoviária não lavam suas roupas e jogam lixo no rio e incomodam moradores próximos.
-Eles não lavam roupas, eles queimam as roupas e o cheiro tá insuportável para moradores próximos, desmataram o local que é de preservação ambiental – denunciou a vereadora tucana e citou que os indígenas da tribo kaigang estão transformando o local onde residem precariamente – numa lixeira a céu aberto.
Os indígenas fizeram manifestação frente a Prefeitura e reivindicaram promessa do executivo de agilizar área rural para eles morarem. Atualmente duas tribos moram no local, ao lado da Rodoviária de Mafra, totalizando 144 pessoas, entre crianças – adultos e idosos. Mas o vereador Wagner Grossl (PL) disse que há uma área oferecida pelo Executivo, em São João da Barra, mas os índios se recusam a irem para lá porque não tem infraestrutura.
– …mas que bom que não tem infraestrutura, senão não seriam eles índios – fica difícil, mas não é para se achar um lugar pra eles aqui no município, aqui não tem aldeia …querem área com infraestrutura, wifi, ar-condicionado, rede trifásica de energia elétrica – então não são indígenas, assim tá difícil– cutucou Jonas Heide.
Prefeito João Rodrigues chamado de “falador fingido”
O prefeito de Chapecó foi citado pela vereadora Miriam Canforeira por ter gravado vídeo em 2023 dizendo que não sabia quem tinha pago dois ônibus para 40 famílias de índios da aldeia Condá, localizada na cidade de Rodrigues, virem para Mafra.
-O prefeito diz que não sabe e até hoje ele e ninguém sabe – alfinetou Miriam Canforeira.
Mas as críticas mais severas e irônicas ao prefeito de Chapecó vieram do vereador do PP, Sergio Severino (Serginho).
-O candidato a Governador do PSD (João Rodrigues) tá jogando pra torcida, gravou videozinho agora dizendo que não sabe quem pagou…todo mundo sabe quem pagou..,ele se livrou dos índios e mandou pra nós …e como é candidato a Governador de SC resolveu fazer videozinhos, mas pra enganar quem ? Simplesmente é papo furado (do prefeito João Rodrigues) foi ele que colocou os índios no ônibus e mandou pra nós e grava vídeo colocando culpa em Mafra …o que deveria ter acontecido na época era Mafra ter interceptado esses ônibus (vindos de Chapecó) mas não se sabia na época..- pontuou Serginho.
-Precisamos tomar atitude, centro de Mafra está feio, é olhar para o antigo prédio da Rede Ferroviária e se vê vandalismo e se olha para outro lado, da rodoviária se vê índios ..quem tá chegando à Mafra vê isso e quer embora …nosso cartão postal está cada vez mais feio …e o candidato a governador do PSD veio pra Mafra gravar vídeo querendo ganhar votinhos de alguns…- completou Serginho, deixando claro que discorda das ações de como João Rodrigues direciona suas atitudes.
Entenda o caso – Os indígenas estão acampados há oito anos ao lado da rodoviária de Mafra. Em julho de 2023, 40 outras famílias que ficaram desabrigadas após um conflito na Aldeia Condá em Chapecó, no Oeste do Estado, se deslocaram para Mafra, em dois ônibus fretados até hoje sem saber por quem.
O motivo deste deslocamento para Mafra teria sido uma relação familiar estreita entre os grupos. O pai do cacique do acampamento em Mafra seria um dos indígenas desabrigados em Chapecó. O cacique de Mafra, então, teria ido até Chapecó, “onde indicou que os índios que acompanhavam seu pai viessem para Mafra em uma suposta terra indígena homologada na cidade”, o que não é verdade, diz a prefeitura de Mafra.
A Funai de Curitiba, responsável pela jurisdição de Mafra, na época tentou convencer o grupo para que se deslocasse para áreas homologadas, tanto em Santa Catarina como no Rio Grande do Sul, mas não teve sucesso. Uma área no município de Três Barras teria sido o destino que a Funai destinou para os indígenas que estão em Mafra, mas eles alegam que lá já existem outras tribos e para evitar conflitos querem uma área deles em Mafra.
Em nota a Funai diz que “os indígenas têm o direito de todo cidadão brasileiro de ir, vir e permanecer; não fazemos tutela orfanológica de impedir o trânsito dos indígenas ou mesmo a remoção de famílias de onde quer que estejam”, afirma o órgão.
Ainda de acordo com a Funai, o município deverá atualizar os cadastros dos integrantes das famílias indígenas caso permaneçam no local, para que possam acessar os direitos disponibilizados pelo governo.
O que diz o MP de Mafra
O Ministério Público de Mafra questionado pelo SBCSul sobre a situação dos índios no município, relatou que – “Em agosto de 2023 aportou notícia sobre o assunto aqui na 3ª Promotoria de Justiça de Mafra. Contudo, haja vista que a situação envolvia comunidade indígena, declinou-se a atribuição ao Ministério Público Federal. Nesse sentido, não possuímos maiores informações sobre o assunto, vez que a questão se desenvolveu naquele órgão ministerial”.
A Procuradoria Federal, por sua vez foi acionada pelo SBCSul e nos próximos dias haverá manifestação sobre quem pagou o transporte dos indígenas de Chapecó para Mafra e o que está sendo feito junto a Funai para se ter uma solução a respeito.
Os Kaingang são um povo indígena que vivem nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Eles são um dos povos mais numerosos do Brasil.